A média de crescimento estimado corresponde a pouco mais de 200 mil hectares ao ano, enquanto o potencial efetivo de expansão da agricultura irrigada no Brasil é de 11,2 Mha. O potencial de expansão apontado acentua a necessidade de um esforço crescente de planejamento e gestão a fim de evitar ou minimizar conflitos pelo uso da água, em especial nas bacias hidrográficas que já possuem indicadores de criticidade quantitativa.
Com dados inéditos, o Atlas Irrigação apresenta uma retrospectiva, um panorama atual e uma visão de futuro sobre a agricultura irrigada brasileira, com foco no levantamento de áreas irrigadas, no potencial de expansão e no uso da água associado. Seus apontamentos permitem melhor atuação em áreas já consolidadas e naquelas que tendem se desenvolver mais rapidamente no horizonte considerado.
Para o superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes, presente no evento, o lançamento do Atlas no principal evento sobre irrigação é um marco na busca da segurança hídrica no Brasil. "Precisamos compreender a água como insumo ao desenvolvimento e não como gargalo", disse. Segundo ele, a ANA tem trabalhado para oferecer aos governos a base técnica que sirva de instrumento para a gestão de recursos hídricos e para a tomada de decisões.
A área atual equipada para irrigação estimada no estudo é de 6,95 milhões de hectares. Embora a atividade seja dispersa no território, o estudo identificou os principais polos e características de concentração.
Com base nas áreas atuais e projetadas para 2030, bem como no uso da água associado, foi possível estabelecer, em escala nacional, as principais áreas especiais de gestão dos recursos hídricos, subdivididas em três classes: polos consolidados com menor perspectiva de expansão, polos consolidados com maior perspectiva de expansão e polos emergentes com maior perspectiva de expansão.
O setor de irrigação é o maior e mais dinâmico uso consuntivo de água dos mananciais no Brasil e no mundo: a maior parte da água é evapotranspirada pelas plantas e solos e não retorna diretamente aos corpos hídricos em um curto espaço de tempo. Embora a expansão do setor aumente o uso da água, diversos benefícios podem ser observados, tais como a otimização do uso do solo e de insumos (máquinas, implementos, mão-de-obra etc.), o aumento e a regularidade na oferta de produtos agrícolas, o estímulo à implantação de agroindústrias e a minimização de riscos meteorológicos e climáticos.
Além disso, a irrigação, em geral, tende a ser acompanhada ou antecedida por aperfeiçoamentos em outros insumos, serviços, máquinas e implementos. De acordo com o estudo, a agricultura irrigada é responsável pela retirada de 969 mil litros de água por segundo (969 m³/s) e pelo consumo de 745 mil litros por segundo (745 m³/s).
Considerando os demais usos consuntivos, esses valores correspondem a 46% da vazão total retirada (2.105 m³/s) e a 67% da vazão de consumo (1.110 m³/s). Os números se equiparam aos dos Estados Unidos, onde 59% da vazão de retirada é para irrigação, e à média global de cerca de 70% do consumo. No horizonte 2030, estima-se que a área irrigada crescerá 45%, enquanto a retirada de água deverá crescer 38%.
O menor crescimento do uso em relação à área deve-se à perspectiva de maior avanço de sistemas mais eficientes no uso da água, tais como a irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) e a aspersão por pivô central, que representaram 70% do incremento da área irrigada no país entre 2006 e 2016. Considerando as principais culturas irrigadas e sistemas de irrigação no Brasil, o Atlas Irrigação subdivide a agricultura irrigada em quatro grandes grupos: o arroz irrigado por inundação, a cana-de-açúcar, as demais culturas irrigadas por pivôs centrais e as demais culturas irrigadas por outros sistemas.
Para cada divisão foi usada uma estratégia de análise diferente. O arroz, que ocupa 22% da área, é responsável por 37,8% do consumo da agricultura irrigada. Já a cana-de-açúcar, onde grande parte da área utiliza irrigação de salvamento (pequenas quantidades), ocupa 29% da área e consome 10,9% do total. Os pivôs centrais ocupam 20% e consomem 20,5%, enquanto as demais culturas em outros sistemas ocupam 29% e consomem 30,8% do total da irrigação.
O Atlas Irrigação é o resultado do empenho da ANA em fornecer uma nova base técnica com informações relevantes sobre a agricultura irrigada brasileira na sua interface com os recursos hídricos, subsidiando tomadas de decisão com vistas à segurança hídrica e à garantia dos usos múltiplos da água.
A Política Nacional de Irrigação, (Lei nº 12.787/2013), busca, em diversos aspectos, ser compatível com a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997), apesar de, esta primeira, ainda permanecer sem regulamentação. Um exemplo prático dessa compatibilidade é a definição de que os planos de irrigação sejam compatíveis com os planos de recursos hídricos.
Além do superintendente da ANA, participaram da abertura do evento representantes do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS); da Companhia de Desenvolvimento do São Francisco e do Vale do Parnaíba (Codevasf); da Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura do Ceará; da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia; da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID); da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP); do Water For Food Institut e da Federação das Indústrias do Ceará (FIEC). Também estiveram presentes nomes da Universidades do Recôncavo Baiano (UFRB), do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e do Instituto Inovagri.
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