16 de novembro de 2013

A corrida do ouro e a lasca do filé: Luiz Valle

A corrida do ouro e a lasca do filé: Luiz Valle
Presidente da Cavalo Marinho — criação e beneficiamento de frutos do mar
Jesus não multiplicou o boi, o frango e o porco. Multiplicou o peixe. É com essa frase que o Ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, comemora duas boas notícias para o setor produtivo do pescado no Brasil. A primeira delas foi anunciada por Victor Burns, gerente da área de relacionamento do BNDES com o governo: o ProAquicultura, programa recém- criado pelo banco, disponibilizou dotação orçamentária de RS 500 milhões para apoiar projetos de empresas brasileiras de cultivo de peixe nos próximos cinco anos.
A segunda boa notícia, apresentada por André Barbieri, diretor da Riviera Investimentos, foi a criação do primeiro Fundo de Investimentos em Participação (FIP), da ordem de R$ 200 milhões, destinados ao mesmo segmento e voltado para o mesmo objetivo. Na contramão da Bíblia e do restante do mundo, no Brasil primeiramente se investiu nos outros bichos.
Após a estruturação da cadeia produtiva de bovinos, aves e suínos é que o país voltou sua atenção para o potencial da produção de peixes e frutos do mar. Para as empresas tomadoras, o ProAquicultura terá custo anual equivalente à variação da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).Projetos a partir de R$ 3 milhões poderão ser contratados sem intermediação de bancos particulares e haverá flexibilização dos 130% de garantia real normalmente exigidos pelo BNDES.
As microempresas e as empresas de pequeno porte estão isentas da taxa de intermediação financeira. Quando, entretanto, o assunto é Fundo de Investimento em Participação, sai de cena o “S” do BNDES (desenvolvimento Social) e toma assento o “$” dos investidores institucionais, focados nas empresas do peixe que têm gestão transparente, alto potencial de crescimento, grande rentabilidade e solidez.
Ao estimular o BNDES e os fundos de investimento a empregar recursos na aquicultura o governo tem dado mostras de que realmente acredita ser possível ampliar a produção nacional de pescado cultivado, das 500 mil toneladas atuais para sonhados 20 milhões de toneladas por ano. Objetivo que poderá ser alcançado, segundo informação do governo, com o uso de apenas 0,5% das águas da União.
A presidente Dilma inaugura agora mais dois reservatórios nos quais serão implantados parques aquícolas para novos cultivos: Serra da Mesa e Cana Brava, em Goiás, próximos ao Distrito Federal. A notícia incita e excita investidores internacionais oriundos da cambaleante economia europeia, que recorrem ao Ministério da Pesca e Aquicultura ávidos por oportunidade de produzir aqui. E faz lembrar a corrida do ouro, nos Estados Unidos.
Quando James W. Marshall, em 1848, deixou escapar a notícia de que encontrara pedaços de certo mineral amarelo e brilhante em uma calha de moinho, viu cair sobre si uma multidão de 300 mil pessoas, vindas de toda parte. A Califórnia se transformava em um inferno! O resto, a História conta: Marshall teve suas terras invadidas e seu rico ouro usurpado.
Morreu reivindicando ao estado, em vão, indenização pelas terras perdidas. Nós, produtores que cultivamos peixes no Brasil desde o tempo em que a piscicultura era tratada como atividade econômica irrelevante, não temos vocação para Marshall. Os R$700milhões de investimento no nosso setor são muito bem-vindos. Quem já roeu tanto osso — digo, tanta espinha — tem direito de provar a lasca do filé.

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