18 de agosto de 2017

A pele de tilápia é usada no tratamento de queimaduras

Pesquisadores no Ceará descobrem o poderoso efeito do couro que diminui as dores da cicatrização.
Deitado em uma cama de hospital, o balconista Francisco Rostana Gabriel, 22, tem as duas pernas e um braço cobertos com pele de peixe. Faz dez dias que ele está internado no núcleo de queimados do Instituto Dr. José Frota, hospital municipal de Fortaleza. Depois de tantos dias, a pele do peixe se transformou em uma espécie de couro, e aderiu ao corpo do paciente. “Pode bater”, diz o doutor Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado, dando pequenos toques na perna de Gabriel com os nós dos dedos. “É um couro duro mesmo, tá vendo?”.
Gabriel teve grande parte do corpo queimado em um acidente envolvendo a explosão de um botijão de gás. Quando chegou ao hospital, recebeu os primeiros cuidados, como a limpeza dos ferimentos e a aplicação de pomada cicatrizante. No dia seguinte, como procedimento padrão, teve de tomar anestesia geral para fazer a troca dos curativos. “A dor é tão grande, que parecia que eu estava sendo queimado de novo”, disse. A equipe do hospital então perguntou se ele aceitaria fazer o tratamento com pele de tilápia. “Eu aceitei, porque disseram que dói menos”, conta Gabriel. "E realmente, a dor melhorou muito". Ao todo, o rapaz recebeu 40 peles deste peixe, que também é conhecido em algumas regiões como Saint Peters. Com o passar dos dias, o material vai se transformando em um couro duro e só é retirado, com a ajuda de vaselina, depois que a pele do paciente começa a cicatrizar. Essa é uma das vantagens do uso da tilápia: como o curativo não precisa ser trocado todos os dias, como no método convencional, o paciente sofre menos.
O tratamento de queimaduras com a pele da tilápia é fruto de uma pesquisa iniciada em 2015 pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com o Instituto Dr. José Frota. Os pesquisadores tiveram a ideia de aplicar o material na medicina depois de descobrirem que 99% da pele deste peixe vai parar no lixo.
Pensando nisso, formaram uma equipe para estudar a viabilidade do uso deste material na cicatrização de queimaduras, baseando-se em outras experiências registradas. “Em outros países, são usadas peles de outros animais como porco, rã e cachorro”, explica Edmar Maciel, que também é o coordenador da pesquisa. “Mas descobrimos que a pele da tilápia tem alta concentração de colágeno, é resistente à pressão, tem boa umidade e por isso adere bem na pele humana e evita que o paciente perca líquido, uma das complicações das queimaduras”. Além disso, o material, por enquanto, sai de graça.
O uso da pele ainda está em fase de pesquisa para queimaduras de segundo grau. Por isso, ela não é aplicada em todas as pessoas que chegam ao hospital. Há um critério que envolve idade e estágio da queimadura, além de o paciente precisar aceitar participar da pesquisa. "Já teve gente que não quis participar, por achar que poderia, por exemplo, ficar com cheiro de peixe no corpo", conta Maciel. Mas isso não ocorre. Para ser utilizada, a pele da tilápia passa por um tratamento especial de limpeza e a esterilização, feitos nos laboratórios da UFC. Depois, o material é enviado a São Paulo, onde recebe uma irradiação para matar possíveis vírus. Só então volta para a Universidade, onde pode ficar armazenado sob uma temperatura de 3 a 4 graus por até dois anos. Ao todo, o processo de limpeza dura de sete a dez dias, incluindo o envio para São Paulo. O cheiro é totalmente eliminado.
Hoje, 1.000 peles de tilápia formam o banco de peles da UFC, de onde são enviadas para o hospital à medida em que há necessidade. Odorico Moraes, diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Medicamentos da UFC, explica que a demanda depende de fatores como a época do ano. "Em junho, época das festas de São João aqui no Nordeste, quando fazem fogueiras e soltam balões, a demanda cresce", explica. Os médicos calculam que 97% dos casos de queimadura envolvem a população de baixa renda. A maioria dos acidentes são provenientes de choques elétricos e água quente, como o caso do garoto Cristiano, de seis anos. "Ele brigou com a irmã e ela atirou água quente nele, queimando parte da perna", explicou a mãe, Rita de Cássia, 31. Ela autorizou o uso da tilápia no garoto, que apresentava acelerada cicatrização, dois dias após dar entrada no hospital.
“Isto aqui é o ovo de Colombo”, diz o professor Odorico Moraes. "A tilápia é uma peste: cresce rápido, ganha peso rápido, come de tudo, é criada no mundo todo e se adapta facilmente a diferentes ambientes", diz. Por isso, seu uso é tão viável, assegura. O professor calcula que cada pele, de cerca de 10 x 20 centímetros, tenha um custo de 8 a 10 reais, mas ainda não é possível afirmar, com certeza, quanto custará no mercado. Neste momento, os pesquisadores estão em fase de seleção do laboratório que fará a produção em larga escala, para então, obter o registro na Anvisa e aí passar a comercializar o produto. Além do tratamento de queimaduras, os pesquisadores já utilizaram o material, também em caráter de pesquisa, para implante dentário,reconstituição óssea e da vagina. "Fizemos a reconstituição da vagina de duas pacientes que nasceram com a Síndrome de Rokitansky, uma síndrome rara em que a pessoa nasce sem a vagina", explicou o doutor Edmar Macedo. "Nos dois casos obtivemos ótimos resultados".

A medida da dor

Além do poder cicatrizante, os médicos pesquisam agora as propriedades analgésicas e anti-inflamatórias da pele da tilápia. "Como os pacientes que usam a tilápia relatam tomar menos remédio para dor do que aqueles tratados com o método convencional, acho que há algo aí que merece ser investigado", explicou Mariana Vale, professora e pesquisadora da UFC. Os pesquisadores ainda não sabem, porém, se a dor melhora porque a pele do peixe isola os ferimentos, ou se, de fato, libera alguma substância analgésica.
Para medir a dor, a pesquisadora utiliza um aparelho chamado analgesímetro, com uma extremidade pontiaguda feita de silicone. A médica espeta a ponta em uma parte do corpo e pede para que o paciente diga quando incomodar. A pressão feita é mensurada no aparelho, na medida de gramas. Depois, ela vai próximo da área queimada, e repete o procedimento. Dali é tirada uma média, que é refeita a cada dia, para observar o quanto a dor diminui. "O que já podemos dizer é que há muita diferença no limiar da dor entre aqueles que usam a tilápia e os que fazem o tratamento convencional", conta a pesquisadora.

FONTE: TV Jaguar/ El País/Alto Santo é Notícia.

CONVITE DE REUNIÃO DO GASPEC!

Atenção voluntários! A presidente do GASPEC,Ideusa Gurgel avisa, que hoje, às 19h30min haverá reunião na sede da entidade e convida a todos para participarem!
Na oportunidade, serão discutidos os assuntos: 

  • A IV Semana de Prevenção e Combate ao Câncer;
  • Outubro Rosa;
  • Parabéns ao GASPEC pelos 6 anos de existência, e
  • Outros...
A sua presença é muito importante. Participe!

Castanhão pode secar antes da quadra chuvosa de 2018

O principal reservatório do Estado, o açude Castanhão, pode esgotar a sua capacidade antes mesmo da quadra chuvosa de 2018. A análise é do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) a pedido do Diário do Nordeste. Segundo o órgão, a seca, recorrente principalmente no norte e oeste da Região Nordeste, já perdura por mais de doze meses, principalmente a oeste do Estado da Bahia, grande parte dos estados do Piauí, Ceará e norte de Minas Gerais.
Segundo o coordenador geral de Operação e Modelagens do Cemaden, o meteorologista Marcelo Seluchi, o Castanhão apenas superou o volume de 5% após a estação chuvosa de 2017, o que é prejudicial para os próximos anos. "A projeção que nós temos é que o Castanhão chegue ao seu esgotamento antes da quadra chuvosa do próximo ano. O reservatório, considerando a situação atual, pode até manter os níveis e aguentar de 2 a 3% no máximo". Ainda segundo Seluchi, a reserva equivalente à soma de todos os mananciais, tem em média pouco mais de 9% da capacidade.
"É muito baixo, principalmente se levarmos em conta que só volta chover no Ceará em fevereiro do próximo ano. Até lá, os recursos vão se esgotando. O estado hídrico é grave", alerta o meteorologista. Seluchi conclui a análise pontuando que, para solucionar o problema hídrico do Ceará, o ideal seria precipitações antes da quadra chuvosa. "Eu diria que a gente tem que torcer para um início de quadra chuvosa o mais antecipado possível. Há muito tempo que não acontece. Nós estamos chegando ao sexto ano de chuvas críticas no Nordeste. O sistema não foi criado para aguentar isso".Seca
A avaliação das condições hídricas, de acordo com o índice Integrado de Seca (IIS) do Cemaden, do mês de julho, é de "Seca Severa" em 148 municípios, inseridos em sua maior parte nos estados do Piauí, norte da Bahia e Ceará. Em relação ao mês anterior, para a condição de "Seca Severa", esse número de municípios triplicou. No mês junho, o órgão estimou que 4.164 mil pessoas estavam em áreas de extrema e severa seca. Do Ceará, se destacam em condições graves os municípios de Salitre, Santana do Cariri, Potengi, Nova Olinda, Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte, entre outros. Em relação ao últimos dois meses, os impactos da seca em áreas de atividades agrícolas ou pastagens se mantiveram constantes. De acordo com o índice de Suprimento de Água para a Vegetação (VSWI), 299 municípios apresentaram pelo menos 50% de suas áreas impactadas.
Gestão
A reportagem entrou em contato com a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), responsável pelo gerenciamento dos recursos hídricos. Segundo o órgão do Estado, estudos internos apontam que o Castanhão chegará em 31 de janeiro de 2018 com cerca de 153 milhões de metros cúbicos de água, o que representa 2,29% de sua capacidade.
"Atualmente, a principal fonte hídrica para o abastecimento de Fortaleza e RMF são os açudes da Bacia Metropolitana. Isso ensejou a redução da transferência de água do Castanhão para Grande Fortaleza", diz a Cogerh.
Entre as medidas tomadas pelo governo, algumas ações foram pensadas para melhorar a distribuição de recursos. Conforme a Cogerh, houve restrição nas vazões do Castanhão. A medida é definida anualmente nas reuniões de alocação pelos Comitês de Bacias Hidrográficas do Alto, do Médio e do Baixo Jaguaribe, do Salgado e do Banabuiú, face ao agravamento da seca desde 2015. Atualmente o Castanhão opera com vazão de 7,5 m³/s, atendendo ao Vale do Jaguaribe e ao Eixão das Águas.
Já o abastecimento da Grande Fortaleza está assegurado até o próximo ano, mesmo com a redução das transferências de água do Castanhão. "É imprescindível a participação da sociedade no sentido de manter e intensificar o uso racional e parcimonioso da água. Bem como a manutenção dos controles e medidas que vêm sendo adotados pelo Plano Estadual de Convivência com o Semiárido e Plano de Segurança Hídrica da RMF", conclui a Cogerh.


*Alto Santo é Notícia.